Eu tenho 90 anos. E daqui, do fim da vida, pareço muito mais perto da infância do que jamais estive desde que perdi a inocência. Daqui, de onde os sons cada vez mais próximos são os insuportáveis ruídos do silêncio absoluto, eu desejo ardentemente ser criança de novo.
Desejo correr descalço por entres nos corredores da casa, passar perto da mesa de jantar e não conseguir ver o que está lá em cima; desejo sorrir até sentir dor de barriga, acordar cedinho morrendo de vontade de brincar com o novo amigo, sonhar acordado e com a imaginação, fazer desse sonho uma realidade tão incrível que se pode até tocar com a ponta dos dedos; desejo falar gritando, comer apressado, dormir na sala, sentir medo do escuro e não ter medo do desconhecido.
Eu preciso sentir novamente, antes de ir de vez, os sabores e cores de ser criança. Enfiar os pés na lama, sujar a camisa de sorvete, misturar suor e poeira no rosto avermelhado de tanto brincar ao sol.
Mas isso, eu sei, é impossível. O tempo não respeita desejos, não ouve pedidos, não tem coração. Não, definitivamente, o tempo não tem coração. É uma locomotiva, uma máquina pesada, que trabalha incessantemente. Segue, barulhenta, sempre sobre os trilhos da vida, até o fim da viagem. E no fim, depois de correr tanto, sonhar tanto, a gente descobre que o melhor estava lá no início, aos primeiros apitos da locomotiva.
Desejo correr descalço por entres nos corredores da casa, passar perto da mesa de jantar e não conseguir ver o que está lá em cima; desejo sorrir até sentir dor de barriga, acordar cedinho morrendo de vontade de brincar com o novo amigo, sonhar acordado e com a imaginação, fazer desse sonho uma realidade tão incrível que se pode até tocar com a ponta dos dedos; desejo falar gritando, comer apressado, dormir na sala, sentir medo do escuro e não ter medo do desconhecido.
Eu preciso sentir novamente, antes de ir de vez, os sabores e cores de ser criança. Enfiar os pés na lama, sujar a camisa de sorvete, misturar suor e poeira no rosto avermelhado de tanto brincar ao sol.
Mas isso, eu sei, é impossível. O tempo não respeita desejos, não ouve pedidos, não tem coração. Não, definitivamente, o tempo não tem coração. É uma locomotiva, uma máquina pesada, que trabalha incessantemente. Segue, barulhenta, sempre sobre os trilhos da vida, até o fim da viagem. E no fim, depois de correr tanto, sonhar tanto, a gente descobre que o melhor estava lá no início, aos primeiros apitos da locomotiva.
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